Calçada de Carriche

Por momentos lembrei-me deste poema. Ficou-me na memória desde os meus tempos do secundário, lembro-me de o ter estudado numa aula de Português. Não sei precisar em que ano… incrível… Já foi há tantos anos, mas ainda me lembro de o ler como se fosse hoje! A mente tem destas coisas =)

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Luísa sobe, sobe a calçada,

sobe e não pode que vai cansada.

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Sobe, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe sobe a calçada.

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Saiu de casa

de madrugada;

regressa a casa

é já noite fechada.

Na mão grosseira,

de pele queimada,

leva a lancheira

desengonçada.

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Anda, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.

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Luísa é nova,

desenxovalhada,

tem perna gorda,

bem torneada.

Ferve-lhe o sangue

de afogueada;

saltam-lhe os peitos

na caminhada.

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Anda, Luísa. Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.

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Passam magalas,

rapaziada,

palpam-lhe as coxas

não dá por nada.

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Anda, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.

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Chegou a casa

não disse nada.

Pegou na filha,

deu-lhe a mamada;

bebeu a sopa

numa golada;

lavou a loiça,

varreu a escada;

deu jeito à casa

desarranjada;

coseu a roupa

já remendada;

despiu-se à pressa,

desinteressada;

caiu na cama

de uma assentada;

chegou o homem,

viu-a deitada;

serviu-se dela,

não deu por nada.

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Anda, Luísa. Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.
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Na manhã débil,

sem alvorada,

salta da cama,

desembestada;

puxa da filha,

dá-lhe a mamada;

veste-se à pressa,

desengonçada;

anda, ciranda,

desaustinada;

range o soalho

a cada passada,

salta para a rua,

corre açodada,

galga o passeio,

desce o passeio,

desce a calçada,

chega à oficina

à hora marcada,

puxa que puxa, larga que larga,

toca a sineta

na hora aprazada,

corre à cantina,

volta à toada,

puxa que puxa, larga que larga,

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Regressa a casa

é já noite fechada.

Luísa arqueja

pela calçada.

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Anda, Luísa, Luísa, sobe

,sobe que sobe, sobe a calçada,

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Anda, Luísa, Luísa, sobe,

sobe que sobe, sobe a calçada.

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(António Gedeão)